segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

RETRATO DA EJA NA REDE PÚBLICA DE ENSINO

Pesquisa recente me fez constatar a desconfiança que sempre tive acerca dos escritos em Educação, isto é, as pessoas que mais escrevem sobre Educação são apenas teóricos e desconhecem a realidade da sala e aula, por isso transfere ao docente os fracassos que essa modalidade vem enfrentando ao longo dos anos.
A vivência em sala de aula que tive na década de 1990 nada se compara com a experimentação do século XXI. As pessoas são outras, os valores são outros. A única mudança da escola foi na questão do "bônus".
A invenção do Caderno do Aluno - o qual nunca se acha o correspondente que seria o caderno do Professor - é insatisfatório, não possui uma sequência lógica, o que dificulta o ensino e, consequentemente a aprendizagem do aluno. 
Salas de aula lotadas, extremamente heterogêneas, quando as mesmas deveriam ser montadas procurando, ao máximo possível homogenizar a faixa etária para que não ocorrer assimetria tão pungente como a que ocorre hoje.
Não há uma metodologia específica, o docente, através de sua percepção, detecta os problemas mais severos encontrados nas salas de aula e procura adaptar uma metodologia qye atenda - em partes - a sala inteira. O que não ocorre, evidentemente, por conta da grande diferença etária e de grau de conhecimento.
A partir dessa constatação, o professor prepara não só o seu material, mas também o do aluno, sem receber nada por isso - tanto em tempo de dedicação, quanto  nos custos do materiais (toner, papel etc.).
Seria então o docente o incapacitado para lecionar na EJA?
Não, evidente que não.
A incapacidade está na Equipe gestota, mais especificamente na Coordenação das escolas públicas que acumulam Ensino Fundamental, Ensino Médio Regular e EJA, não trabalhando bem em nenhum e para nenhum deles.
O professor hoje encontra-se num barco sem remo, sem motor e sem bússola. É atacado e criticado de todos os lados, pelo patrão (o estado) e pela escola (equipe gestora). Cobra-se muito e até mesmo cobranças infundadas e pouco se oferece, a começar pelo apoio nas sugestões, nas reclamações e nas reinvidicações que não são suas, mas dos próprios alunos.
Escola e governantes devem aceitar a verdade inexorável de que quem mais conhece os problemas em uma determinada sala de aula é o professor, e é eles que devem ser ouvidos; é eles que devem descrever e escrever suas experiências vivenciais. As metodologias, o material didático e as políticas de modo geral não devem ser escritas por leigos, isto é, por aqueles que não são presentes em sala de aula, ou que, nela pisaram há muitos anos atrás. A historia da EJA no Brasil precisa ser reescrita, contudo, por aquele que vivencia e não por aquele que acredita ser a utopia a realidade absoluta, porque aquele que experimenta que compartilha, não usa a EJA como instrumento político.
Helena Colares